sábado, 12 de janeiro de 2013

Cegueira integral da alma

O despertador toca, eu refugio-me nos lençóis de flanela, não me apetece sair, não me apetece enfrentar o nevoeiro nem o frio das manhãs de Inverno que me deixam ainda mais sonolenta. 
O despertador toca: atiro-o! Desprezo-o por completo. Até que tenho de me erguer no meio da escuridão do meu quarto, como um anjo que se levanta no meio das trevas já quase derrotado. 
Ponho um pé, depois o outro. Lavo a cara, saio de casa. 

(Merda não tenho as asas que me podiam ajudar a aprumar.) 

Tento abster-me, desistir, prefiro ficar, mas no último momento em que tento ignorar o mundo e voltar para a minha sinistra realidade em que sou mais do que consigo, o despertador toca só mais uma vez e sou coagida a ir. 

Inicío mais uma viagem

O milagre acontece: saio de casa. O frio congela-me as pálpebras, sinto-me cega pelo caminho todo que tenho de percorrer, provavelmente terei uma doença rara, ou pelo menos pouco homologada por parte de quem a vive; uma cegueira visual que vai para além da miopia e do estigmatismo, que vai alem do cérebro, embargando o meu coração, esse meu pobre coração. Cegueira integral da alma
As pálpebras não obedecem ao pensamento, o coração não acompanha a respiração, ainda respiro eu? Talvez não, mas movo-me. Vagueio. Movo-me como fantasma no seu funeral que não consegue decifrar o porquê de todos o tentarem empunhar e de ninguém conseguir cessar de gemer por si, sobre o seu corpo.
Então saio desfigurada como esse fantasma; confusa por uma rua que me seria vulgar, mas que nada me diz, não conheço, desconheço, não sinto, melindro; caminho sem fim, invado-me do mundo por ruas sem fins, sem vista, sem mim, sem o reconhecimento da vida, coma parcial da vida, a cegueira integral da alma. 

Sou como quem respira e não sabe para o que vivo. 
Sou como quem tenta exprimir e não consegue. 
Sou como quem quer sentir e não deixam. 
Sou como quem quer voar e nunca teve asas, nunca o fez, mas sempre o desejou… em vão. 

 Não sinto, não conheço, não vivo.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Chamadas de valor acrescentado pagam ordenados

2013 é um ano confuso e complicado para os televisões nacionais, quer sejam privadas ou publicas ou que passem de publicas a privadas. A crise que o país atravessa deixa cada vez mais a desejar ao serviço público, aos programas de entretenimento, às séries e a toda uma pobre programação que os canais de Portugal tentam dar ao seu público. 

A informação é monopolizada, chegamos à parte em que ou se diz o que os grandes senhores donos de Portugal e das estações querem ou « a porta da casa é a serventia da rua» e há quem precise de trabalho, sim trabalho! Porque um emprego tem contrato e regalias em vez de recibos verdes e pagamentos pela «porta do cavalo» onde se foge à segurança social e ao fisco e quando se põe «o pé na argola» lá se fica sem trabalho. 
As redacções estão cheias de estagiários, não remunerados e/ou pessimamente pagos, os programas que estavam no ar em 2012 podem não vir a estar no ar este ano, os jornalistas não sabem o futuro, os investidores sabem que não financiam mais porque primeiro estão as suas empresas e a sua boa vida, pois quando o rabo está apertado à que fugir à pressa. 
Então qual a solução para que as estações televisivas, os jornais e toda a comunicação social continue a produzir, como pagar aos funcionários? É fácil, é simples, e pouca gente nota: as chamadas telefónicas de valor acrescentado são a solução. 
Quando se vota no concorrente de um concurso em qualquer programa o valor que sai do saldo do nosso telemóvel vai para os bolsos dos outros. 
Ora se ligássemos para a SIC na altura em que «davam» carros, o valor da chamada servia não só para pagar os carros mas ainda para os subsídios dos funcionários da estação. Mas se votássemos na Casa dos Segredos da TVI o valor da chamada fazia parte do prémio do grande vencedor, do dinheiro amealhado ao descobrirem os segredos dos outros concorrentes e ainda dava ordenado à Teresa Guilherme e ao resto da equipa… com jeitinho ainda dava para pagar outros ordenados que nada tinham a ver com o programa. 
É este o desenho de um país afundado, é a crise e as aldrabices dos senhores que mandam e desmandam em Portugal e no que dizemos. Na escola aprendemos que a censura condicionou a cultura nacional e que falta de liberdade de expressão limitou o pensamento português, mas isso não acabou tudo em 1974 com a Revolução dos Cravos? Parece que não, afinal como se diz em inglês «a penny for your thoughts», ou seja, cada pensamento tem um valor e é esse valor que tentam na actualidade injectar nas contas de todos os que os querem libertar. 

«Ganhe um carro para nós calarmos o mundo» será este o próximo slogan de uma das nossas estações? Continuaram elas a «leiloar» carros enquanto enchem os bolsos que pagam aos funcionários e que calam o mundo? E que mundo é este que se deixa subornar?

É o mundo da crise em que só sobrevive quem tem dinheiro, e esse só os grandes senhores, com os grandes esquemas, conseguem governar.

Desabafos

Ás vezes é mais complicado do que se pensa querer dizer algo quando sabemos que não é bem recebido, quando supomos as reacções e sabemos que meia-dúzia de frases vão ser desprezadas e que cada palavra será ignorada por simples teimosia e rancor ainda guardados. Noutros tempos não era assim, e o mal poderá ter sido o tempo passar demasiado depressa sem que se pudesse parar pelo menos umas horas para que alguém ou algo se perceba. Outras vezes é por o tempo andar tão devagar que não consegui-mos alcançar o que queremos por mais que a gente corra. Faz parte daquilo a que chamam Vida não será? Andar a velocidade que o tempo quer. 
Vida: jogo das escondidas com o tempo e com os sentimentos. Encontras melhor definição? Eu não.
E talvez não encontre porque cada vez me parece mais óbvio que nos deixamos controlar por ela em vez de sermos nós a controla-la, ou até porque passado tanto tempo (e a palavra tanto pode apenas ser um eufemismo ou então muito mais que isso dependendo da perspectiva que cada um de nós decide escolher, provavelmente a tua não será a mesma que a minha). 
Mas o que se pode fazer se não deixar-mos que as coisas continuem avançando com a corrente que o mar nos traz; umas vezes as coisas aproximam-se, outras afastam-se; umas vezes queremos nadar até ao fim, mas a corrente não deixa, outras queremos estar estagnados e a corrente leva-nos para um rumo desconhecido. 
“Andamos ao sabor do vento”, como diria a minha avó se eu lhe mostrasse o texto. Eu ando mais ao sabor da chuva, das marés, sou Peixes e provavelmente isso diz tudo. Não sou do tipo de ficar sentada, mas também me canso rapidamente, não desisto, mas também não luto sozinha, não acredito em contos de fadas, mas ainda acredito que os grandes e verdadeiros amores que nascem do fundo do coração…podem vencer. 


 Basta um sorriso, um olhar.