quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Cá te espero... com saudades

É quando vemos partir quem mais gostamos que o coração aperta. Não, não estou a falar de um ente querido que parte para outro mundo, mas de quem parte em busca de novas oportunidades e à descoberta do mundo.

Falamos há anos daquilo que nos atormenta, dos objectivos e sonhos que temos e do que fazer para os alcançar num país esgotado… mas será que teremos todos a coragem de arriscar? Fazer as malas, deixar a família e os amigos para trás? A cultura, o nosso sol de inverno e os passeios à beira-mar ou na baixa mais acolhedora da Europa… seremos capazes de largar tudo e viver de Skype, WhatsApp e Facebook para nos aproximarmos de quem deixámos a milhares de quilómetros de distância? Será ousadia, coragem, desespero ou o pensamento no futuro e numa vida melhor para quem um dia virá ao mundo… o que (n)os move afinal?

Quem fica conta os dias, faz contas aos fusos horários, fixa o Skype à espera que do outro lado alguém fique online para uma chamada, aguarda respostas com horas e dias de atraso no WhatsApp e desespera por um simples “Like” numa foto como quem diz “ainda não me esqueci de ti”.

E será que algum dia alguém se esquece? Eles esquecem-se ou nós esquecemo-nos? Esquecerão eles a palavra mais portuguesa de todas e que só existe no nosso dicionário, formularão frases para dizer que sentem saudades quando a palavra “saudade” já fala sozinha? Será que algum dia se esquecem do Cozido à Portuguesa, do Bacalhau e do Arroz Doce?

Um dia, é provável que a dor e a saudade acalmem, não pelo esquecimento, mas por nos conformarmos que escolheram o melhor caminho, um caminho com futuro e que partiram à conquista de sonhos … e assim “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, já dizia o poeta.

São demasiados anos a entrar no Aeroporto da Portela e a vê-los partir de coração nas mãos… conheço demasiado bem as chegadas e vejo nelas o sorriso de quem chega cheio de histórias para contar e se lembra que a saudade existe, mas acabará por se matar num abraço, em vez de mezinhas e sem estar online…agora é real.

Até um dia ou até ao próximo mês, nunca se sabe, nunca saberemos.


Cá te espero, como sempre vos esperei.