sábado, 13 de outubro de 2012

Um adeus que foi para sempre




A tarde estava pálida, ela tinha acabado de acordar, pegou no telefone e ligou, a quem mais poderia ligar senão a pudesse acalmar? Ligou-lhe, então do outro lado ouviu:




- Então, amor, como estás?
- Bem sempre bem, como me ensinaste….
- Oh vá lá, não sejas assim eu conheço-te!
- E tu como estás? Melhor?
- Na mesma… as coisas não são assim
- Preocupa-te contigo, em ficar bom, tudo o resto não interessa é secundário
- Olha, vou desligar, um beijo.




E antes que tivesse tempo de dizer “Adeus” já ela ouvia o “pii pii pii” do outro lado.
Refugiou-se nos lençóis, fechou os olhos só mais um pouco, desejou adormecer outra vez, desejou que estivesses do meu lado, desejou, desejou…
A tarde foi ficando nobre, mas ela no seu estado de lástima já degradado continuava presa debaixo dos lençóis, achara que assim se poderia proteger do mundo com uns simples lençóis, foi boba, ainda o é.
O tempo foi passando e o sol trocou de lugar com as nuvens, estas por sua vez trouxeram a lua, naquele dia mais depressa que nos outros dias, ou seria ela que teria ficado tempo demasiado abstrusa do mundo? Não interessa, já pouco do que a vida tinha lhe interessava, a cativava ou a apaixonava.
O rádio toca por tocar, o computador ligado por estar, a televisão fala sozinha e os livros mudos chatearam-se consigo, já ela chateou-se com a vida. Acha justo já que a vida lhe virou costas e o mundo nem se importou.




- Olá então como é que estás, melhor…?
(Fez-se silêncio, e o silêncio torna-se constrangedor quando já não se vive por gosto)
- Mal. E tu?
(A frieza gelou ainda mais aquele silêncio que se fazia sentir)
- Bem… queres falar sobre o que tens?
- Eu sei como estás. Não finjas, eu conheço-te. Eu estou triste, vazio, perdi o gosto pela vida, sinto-me distante… Andreia estamos tão distantes. Tu não me percebes e eu não te percebo…
- Não te quero massacrar com os meus problemas.
- Se me contasses…
(Ela interrompeu, não o queria com pena, não queria que a sua última recordação fosse pungente, queria protege-lo)
- Não te vou contar, tens um grande problema para resolver e isso já te ocupa bastante tempo.
- Eu estou a sofrer tanto, sinto-me vazio, vazio, triste, escuro, sabes?
- Sim sei, acredita que sei mesmo!
- Mas ainda ontem disseste que não tinhas conhecido ninguém que passasse pelo mesmo…
- Sim não conheço, mas sei exactamente o que é esse vazio…
- Desculpa-me, mas quero ficar sozinho…




O chão estremeceu, o céu desabou. Um terramoto? Um furacão? Não, não, não!!! Eram apenas pedaços do seu coração.
Sentiu os pés húmidos, chegou a achar que estava a delirar, mas espreitou e apercebeu-se do enorme lago que as lágrimas que saiam do seu vulto formavam; gritou, chorou, “Porquê, mas porquê a mim? Merecia assim tanto isto?” perguntou-se vezes sem conta, mas ninguém a ouviu, não haviam respostas. O mundo tinha parado, ou estaria ela no compasso errado da valsa que nos consome durante a vida?
Perdeu a noção do tempo, os lençóis eram agora o seu refúgio, as poucas palavras que dizia revelavam desgosto, mas ainda assim amor, e no meio desse sentimento e dos olhos inchados da epilepsia que ali adquiriram via-se o cansaço, o esgotamento que lhe consumia a vida, que a fizeram perder o sorriso, que a matava dia após dia e a retirava do mundo.
Era uma sombra, sentia-se sombra já sem ninguém, sozinha, perdida, já nada tinha e então desejava, desejava…
Sabia o que tinha, sabia que estava sozinha, ninguém a ia perceber, foi por isso que deixou o que mais amava ir-se embora, ninguém sabia o que tinha, ninguém a olhava como alguém que precisava de ajuda, olhavam-na como uma menina feliz, tímida e forte que agora perdera o sorriso, o verdadeiro sorriso mas ainda desejava, desejava…




- Sim ainda gosto de ti…




O coração dela já não palpitou, os olhos já não se abriram e a audição também a atraiçoou. Evadiu-se do cosmos sem ouvir o que mais queria, o que tanto desejava. Por ela abaixo escorria o sangue que denunciava a sua partida, e o vento uivava como um pobre cão que prediz uma notícia.
Ela sabia que num amor imortal não eram as lágrimas que os ia juntar mas a força desumana que os consumia. Foi amá-lo num lugar seguro, imune, o lugar onde sabia que o podia proteger, e tudo o que mais queria era ver o sorriso estampado na face do homem que sempre amara mesmo antes de lho dizer. Uma estrela.


- A tendência é quando se vê um grande amor a querer sair pela porta correr atrás, prende-lo, nem que seja só mais um pequeno instante; quer-se uma recordação melhor, o último beijo, o último olhar, a última chama viva que o coração deita. (Muitos dizem por isso que somos fracas, outros que por sermos assim somos mais fortes.) - 

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