quarta-feira, 27 de maio de 2015

A paixão é uma coisa, o amor é outra

Sabes quando sentes aquele friozinho na barriga? As famosas borboletas que toda a gente fala? Ainda não chegaste e já o teu estômago deu 3 voltas, o coração parece saltar e nunca mais voltar, talvez tenha decidido partir; às vezes há abrigos melhores que o teu próprio peito para o alojar; por vezes precisa de se sentir completo, não lhe chegam as borboletas, os arrepios e ânsia que sentes, por vezes simplesmente vai à vida dele.
Estas coisas do coração têm muito que se lhe diga, mas tão pouco que se escreva. Não se escreve nem descreve o que é a paixão, o amor, a tristeza; há dores que não se traduzem, sabes que estão lá, és capaz de as sentir mais que qualquer dor “real”. Não é uma nódoa negra, um arranhão, não passa em dois ou três dias e o problema é que nem a vês, não sabes quando passará, nem sabes sequer se vai passar.

As borboletas voaram com o vento que se faz sentir lá fora e que ajuda a combater o calor, talvez tenham ficado moribundas e a deambular pelas ruas de Lisboa, de Santarém, do Porto ou no sotavento algarvio, lá está-se melhor. Enquanto elas ficam perdidas, sabes perfeitamente onde encontrar o teu coração, só não sabes se estarás preparado para o reencontro, custa mais reencontrar um amor que nos abandonou e onde temos de nos recuperar do que deixar ir um amor que acabou. São escolhas, opções, e enquanto puderes evitar o teu coração vais fazê-lo. Ele fica lá, longe, com as borboletas. Um dia, talvez volte, são e salvo, apto para a vida real, um dia ele vai ser capaz de descolar do coração de alguém e voltar a viver por si só; tu esperas, não tens outra solução, enquanto ele parecer um barco à deriva ou amarrado num cais nenhum raio de sol o salvará das tempestades que tem de ultrapassar. Não há borboletas que o apaziguem. Não há borboletas. Não há coração. Ou melhor, há! mas adormeceram no peito de outrem.

E o amor, ah esse maldito, tanta vezes sentido, tantas vezes descrito… tantas vezes. Mais cedo ou mais tarde, noutra forma, de outra maneira ele voltará. Nem sempre tão intenso, outras com maior intensidade, há amores e amores, paixões e paixões. Dizem que as paixões têm um certo tempo, vêm com prazo de validade e só são consumidas depois do prazo se lhes derem o amor, se as alimentarem. Talvez seja este o sentido do amor: primeiro um turbilhão avassalador de emoções, depois a calmaria. Nem todos o percebem, alguns desistem ao primeiro dilema, não perduram o prazo de validade, não o enriquecem. Esta coisa de dizer “amo-te” é muito bonita, traz borboletas e palpita o coração, mas se não for alimentada, resolvida, saciada acabará por morrer com a paixão, e então amamos todos 6 meses porque consumir depois de findada a validade poderá trazer complicações para o estômago e adversidades para o resto do corpo.

“Fraquinhos!”, dizem eles, os que desistem sem dar tudo o que têm e reencontrarem as borboletas já do outro lado do mundo com o olhar ternurento com que olharam pela a primeira vez para aquela pessoa. Há pessoas e pessoas, sentimentos e sentimentos… uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Olho para os meus avós, para os meus pais e para os senhores já de alguma idade enamorados num banco de jardim. Nunca desistiram, apaixonaram-se e desapaixonaram-se vezes sem conta, deram a volta ao mundo um pelo outro, moveram vales e montanhas: ah o amor esse maldito que nos faz dar tudo ou nada.

Haverá ainda amores como os de antigamente? As borboletas chegaram na primavera e parecem já se irem embora, ficarão as flores, os pássaros ou tudo voará como as folhas de outono desgastadas pelos banhos de verão?

Há paixões e paixões, o amor é o que fica depois, se se quiser que haja um depois…

domingo, 5 de abril de 2015

Até onde somos Charlie?

“A minha liberdade termina onde começa a dos outros” foi esta a máxima que sempre me instituíram desde pequena, e que fez ainda mais sentido quando me tornei jornalista. Porém, como tudo na vida, nada é tão simples e linear, a própria palavra “liberdade” é em si demasiado complexa e pode acarretar consequências graves em qualquer nação, seja ela de que regime político ou religião se fizer padecer.
No início do ano o mundo assistiu ao massacre do jornal francês Charlie Hebdo, e esse mesmo mundo uniu-se contra a violência, contra a limitação da liberdade, contra o terrorismo. 12 pessoas morreram, 10 eram jornalistas do mesmo jornal que foi vítima de um repugnante acto de violência. “Je suis Charlie” de norte a sul do país, de um pólo ao outro, todos os hemisférios unidos por um mundo melhor… eu fui Charlie, ainda hoje o sou, não apenas por solidariedade, mas porque a morte de inocentes em detrimento de máximas que se adquirem me faz alguma confusão, quando morremos porque chegou a nossa hora pode ser doloroso, quando morremos porque alguém quis agradar a um Deus, a um ditador, a uma ideologia, desculpem-me, mas não consigo entender… mas ser Charlie não foi só a quando do chacina em Paris, afinal o que define ser ou não ser Charlie? Somos Charlie porquê? E os fundamentos que tínhamos nessa altura surgiram e emergiram ao mesmo tempo? E os restantes massacres no mundo? Os que são e que não são documentados?
São pelo menos 147 os estudantes mortos no Quénia, as televisões noticiaram “ao de leve”, o digital tem uma ou outra coisa, mas são as estações internacionais que dão conta da ocorrência… as redes sociais… ora essas fecharam os olhos e deixaram de ser Charlie, e porquê?
Não seriam estes estudantes tão humanos como os jornalistas do Charlie Hebdo, ou o facto de se matarem jornalistas torna-se um acontecimento mundial com maiores repercussões que se matarem estudantes?
Vidas, destroem-se vidas, futuros e arrasam-se famílias. É disto que falamos, da morte sangrenta de vidas que estavam em paz até serem sequestradas e deixarem de ver a luz. E os “Charlies” onde estão eles? Ou só se é Charlie se estiverem implícito intervir com a liberdade? Não será o fim de uma vida, o fim à sua liberdade?
Enquanto as liberdades de cada um não forem respeitadas, enquanto mundo não para de achar que “O meu Deus é melhor que o teu” e matar por isso, enquanto a consciência e humanização não se sobrepuser a ideologias que derramem sangue: “Je suis Charlie”, mas um Charlie com os olhos postos no mundo.


#jesuischarliecomolhosnomundo

sábado, 7 de março de 2015

Justiça e democracia (ou a falta dela)

Ouvi há dias que a Justiça funciona como o “muro de lamentações da sociedade moderna”, citação do francês Antoine Garapon. Mas afinal o que raio é esta coisa da justiça? Ao que parece, segundo percebi nos últimos tempos, ninguém sabe o que é a justiça, mas todos enchem o peito para dizer que isto ou aquilo “é justo” e que se “houvesse justiça (…)”, e afinal o que pensam eles que é a justiça num país que não sabe o que é a democracia e se mostra infiel ao seus direitos e deveres e, que ainda, aplaude a ditadura de Salazar, se este voltasse tudo seria diferente, para melhor: ora ou não viveram na época, ou se esqueceram do que foi a ditadura em Portugal, ou há toda uma mente deturpada.
O conceito de desresponsabilização é algo extraordinário, não queremos que as máquinas nos substituam e “não somos robôs porque temos sentimentos”, mas quanto menos pensarmos e alienarmos a massa cinzenta melhor.
Para que se quer uma massa cinzenta se quando a usamos é para aplaudir o senhor que está no detector de mentiras n’A Tarde é Sua, ou para dizer “Porra! Que o Correio da Manha é só desgraças!”; ligamos o cérebro num modo “vegetal” em que o corpo reage mas o cérebro faz um esforço para desreagir (se é que a palavra existe). Numa sociedade, sem conceitos, pensamentos pouco autónomos e crenças desfasadas, quanto maior a desgraça mais se aponta o dedo, mais se julga sem saber o que é julgar; a falta de autonomia, autocontrolo, autoconfiança, faz de nós aquilo que não queremos ser: bonecos/robôs; perdemos o que é auto, perdemo-nos a nós, cidadãos do mundo, quando o mundo está ao nosso dispor e não o conhecemos.
Mas voltemos ao importante… Justiça: tem a sua origem no termo latino iustitĭa e refere-se a uma das quatro virtudes cardeais, aquela que é uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido; aquilo que se deve fazer de acordo com o direito, a razão e a equidade ou, por outro lado, o poder judicial e o castigo público. E se é o castigo público julgamos na praça pública, perder tempo em tribunais numa sociedade sem tempo é angustiante…pensamos nós.
Esta coisa da Justiça, segundo consta, nasce com a Democracia (do grego demo= povo e cracia=governo, ou seja, governo do povo) dá-me ideia, assim por alto e sem estudar muito, que se é um regime do povo e para o povo teríamos um regime justo e saberíamos que a justiça faz parte dele, contudo não sabemos o que é a justiça, como não se sabe quais são os nossos direitos, deveres e os organismos que estão ao nosso dispor.
Em pleno século XXI, numa sociedade altamente moderna, numa rede globalmente ligada aos quatro cantos do mundo e cheia de oportunidades, meios e saberes, custa-me, a mim, mais enquanto jovem, do que enquanto humana, que não se saiba fazer uma pesquisa sobre justiça, ou até mesmo sobre o Estado, governo e a actualidade do país e do mundo, mas que percamos tempo a pesquisar quem foi o mais votado na Casa dos Segredos e que lhes continuem a dar audiência: não é apenas triste que uma sociedade com tudo se desfaça em nada; é penoso ver uma jovem identidade e cultura humana desperdiçar-se.

Faça-se justiça, e que se abra em praça pública o debate, ou que se debata internamente as questões da democracia e justiça… assim parece-me justo!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Cá te espero... com saudades

É quando vemos partir quem mais gostamos que o coração aperta. Não, não estou a falar de um ente querido que parte para outro mundo, mas de quem parte em busca de novas oportunidades e à descoberta do mundo.

Falamos há anos daquilo que nos atormenta, dos objectivos e sonhos que temos e do que fazer para os alcançar num país esgotado… mas será que teremos todos a coragem de arriscar? Fazer as malas, deixar a família e os amigos para trás? A cultura, o nosso sol de inverno e os passeios à beira-mar ou na baixa mais acolhedora da Europa… seremos capazes de largar tudo e viver de Skype, WhatsApp e Facebook para nos aproximarmos de quem deixámos a milhares de quilómetros de distância? Será ousadia, coragem, desespero ou o pensamento no futuro e numa vida melhor para quem um dia virá ao mundo… o que (n)os move afinal?

Quem fica conta os dias, faz contas aos fusos horários, fixa o Skype à espera que do outro lado alguém fique online para uma chamada, aguarda respostas com horas e dias de atraso no WhatsApp e desespera por um simples “Like” numa foto como quem diz “ainda não me esqueci de ti”.

E será que algum dia alguém se esquece? Eles esquecem-se ou nós esquecemo-nos? Esquecerão eles a palavra mais portuguesa de todas e que só existe no nosso dicionário, formularão frases para dizer que sentem saudades quando a palavra “saudade” já fala sozinha? Será que algum dia se esquecem do Cozido à Portuguesa, do Bacalhau e do Arroz Doce?

Um dia, é provável que a dor e a saudade acalmem, não pelo esquecimento, mas por nos conformarmos que escolheram o melhor caminho, um caminho com futuro e que partiram à conquista de sonhos … e assim “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, já dizia o poeta.

São demasiados anos a entrar no Aeroporto da Portela e a vê-los partir de coração nas mãos… conheço demasiado bem as chegadas e vejo nelas o sorriso de quem chega cheio de histórias para contar e se lembra que a saudade existe, mas acabará por se matar num abraço, em vez de mezinhas e sem estar online…agora é real.

Até um dia ou até ao próximo mês, nunca se sabe, nunca saberemos.


Cá te espero, como sempre vos esperei.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

«Não é parar que é morrer; é ir andando»

«Não é parar que é morrer; é ir andando».

E assim terminava o livro. Não era uma lição de vida, não era mais uma locução sem sentido e descabida, nem era uma frase feita daquelas que eu odeio. Era a expressão. No final de um livro sem sentido, chato, onde basta ler o início e fim de cada capítulo para saber o conteúdo, no final havia algo.

Não vamos andando… andamos até à paragem do autocarro, caminhamos até ao café, vagueamos até ao trabalho… a vida não vai andando, a vida corre e quando nos apercebemos não fizemos nada porque a vida escorrega. «A vida são dois dias», já dizia a sabedoria popular, o dia em que se vem ao mundo e o dia em que o deixamos, e o importante é o que fazemos entre um dia e outro.

Não vamos andando, a vida não vai andando: foge-nos; e quando dermos por ela já terminou e não realizámos sonhos, nem atingimos objectivos. Não há quem possa brincar com a nossa vida: brincamos nós. E a brincar, a brincar o tempo passa e não podemos ir andando.

A vida não é para ir andando, ela não vai andando: ou corre no supra-sumo de um escorrega de uma vida loucamente vivida e provida daquilo a que chamamos “vida", ou pára e se assim for venham de lá todos os anjinhos para nos guiar para o outro lado (se é que existe um outro lado).

Não é fácil viver, mas não dará mais trabalho que tudo nos escorregue pelas mãos como a água da chuva que cai lá fora e quando a quisermos agarrar o tempo já tenha terminado? Dá trabalho viver, mas foi para isso que nos meteram no mundo; mesmo que seja um mundo cruel é a vida, e tem de ser vivida!

Dá trabalho viver, mas o ir andando mata mais depressa do que parar, consome-nos, tortura-nos, desvaloriza-nos e acaba por nos tirar o ar. O ir andando é estar na corda bamba, uma corda que arrebenta mais depressa que as outras. Não é para ir andando que respiramos, mas para viver, e se é para viver que seja à grande e à portuguesa: ri, chora, ama, sonha, erra, luta, acredita, beija, mas vive!

O mundo é um lugar tão divertido (e essa diversão só pode ser feita por nós), que se pararmos perdemos a montanha russa das emoções, perdemos a vida (seja lá o que isso for).


«Não é parar que é morrer; é ir andando».

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Hoje pensei em escrever a nossa história


Hoje pensei em escrever a nossa história e talvez isso me acalmasse o coração, talvez a corrente do rio que teimo em travar dentro de mim parasse, talvez o mundo parecesse melhor, talvez olhasse para trás e tudo fizesse sentido. Não faz.


Não há sentido numa partida que não se deseja. Não há sentido nas promessas quebradas, muito menos sentido existe num coração que deixou de o ser. E tudo o vento levou, ou levaste tu e deixaste-me despojada de vida.

Hoje pensei em escrever a história de um amor; mas depois pensei: qual amor? Um amor não acaba num pestanejar de olhos, não acaba porque o relógio pára, porque o café amarga, não acaba porque chove lá fora, não acaba porque sim… um amor não acaba. A paixão sim, um amor não. 

Não há promessas e bons momentos que paguem o presente. “O passado fica lá atrás” não é o que se costuma dizer? E se o passado for ainda o presente?

Hoje pensei em escrever uma história. Mas a recordação do sorriso estupido que sempre trazias vestido é o pior dos antídotos para uma mulher seguir a sua vida. 

De recordações não se escreve a historia, dos fracos não reza a lenda, e entre letras, palavras e exaustão de frases é aqui que me apercebo…não há narrativas que valham a pena.

“Foste a maneira mais bonita de errar” mas há erros que não valem a pena. Se um dia voltares, se abrires aquela porta, traz-me contigo, traz-me de volta… talvez aí eu escreva uma história...ou talvez seja tarde demais.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Emoções positivas fazem bem à saúde

É comum ouvir dizer que “coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos”, mas será mesmo assim? Estudos recentes nas áreas da psicologia e neurologia demonstram que as emoções positivas têm um forte impacto na saúde. Alguns estudos apontam mesmo para a redução do risco de doenças cardiovasculares, como a hipertensão e o colesterol elevado.

A produção de oxitocina, conhecida como a hormona do amor e da felicidade, juntamente com a serotonina actuam sobre o organismo, deixando a pessoa mais feliz e menos propensa a patologias como a depressão e problemas cardiovasculares.

A gratidão, a generosidade ou a solidariedade, por exemplo, quando se ajuda alguém ou se integra um programa de voluntariado, fazem bem não só ao espírito como ao corpo. Além de fortalecerem o sistema imunitário, são ainda um poderoso antídoto contra a dor e o stresse.

Tudo acontece muito rapidamente: Cada pensamento gera uma emoção, essa emoção produz uma reacção bioquímica, que se manifesta no corpo, atuando de forma benéfica. Resultado o sistema nervoso, gástrico e todo o organismo agradecem.

Estima-se que as pessoas que cultivam emoções positivas têm menos 50% risco de contrair doenças.

Compreende-se agora que o bem-estar psicológico e emocional fazem parte de um estilo de vida saudável.

Como define a Organização Mundial da Saúde, o conceito de saúde é: "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de doença".