domingo, 5 de abril de 2015

Até onde somos Charlie?

“A minha liberdade termina onde começa a dos outros” foi esta a máxima que sempre me instituíram desde pequena, e que fez ainda mais sentido quando me tornei jornalista. Porém, como tudo na vida, nada é tão simples e linear, a própria palavra “liberdade” é em si demasiado complexa e pode acarretar consequências graves em qualquer nação, seja ela de que regime político ou religião se fizer padecer.
No início do ano o mundo assistiu ao massacre do jornal francês Charlie Hebdo, e esse mesmo mundo uniu-se contra a violência, contra a limitação da liberdade, contra o terrorismo. 12 pessoas morreram, 10 eram jornalistas do mesmo jornal que foi vítima de um repugnante acto de violência. “Je suis Charlie” de norte a sul do país, de um pólo ao outro, todos os hemisférios unidos por um mundo melhor… eu fui Charlie, ainda hoje o sou, não apenas por solidariedade, mas porque a morte de inocentes em detrimento de máximas que se adquirem me faz alguma confusão, quando morremos porque chegou a nossa hora pode ser doloroso, quando morremos porque alguém quis agradar a um Deus, a um ditador, a uma ideologia, desculpem-me, mas não consigo entender… mas ser Charlie não foi só a quando do chacina em Paris, afinal o que define ser ou não ser Charlie? Somos Charlie porquê? E os fundamentos que tínhamos nessa altura surgiram e emergiram ao mesmo tempo? E os restantes massacres no mundo? Os que são e que não são documentados?
São pelo menos 147 os estudantes mortos no Quénia, as televisões noticiaram “ao de leve”, o digital tem uma ou outra coisa, mas são as estações internacionais que dão conta da ocorrência… as redes sociais… ora essas fecharam os olhos e deixaram de ser Charlie, e porquê?
Não seriam estes estudantes tão humanos como os jornalistas do Charlie Hebdo, ou o facto de se matarem jornalistas torna-se um acontecimento mundial com maiores repercussões que se matarem estudantes?
Vidas, destroem-se vidas, futuros e arrasam-se famílias. É disto que falamos, da morte sangrenta de vidas que estavam em paz até serem sequestradas e deixarem de ver a luz. E os “Charlies” onde estão eles? Ou só se é Charlie se estiverem implícito intervir com a liberdade? Não será o fim de uma vida, o fim à sua liberdade?
Enquanto as liberdades de cada um não forem respeitadas, enquanto mundo não para de achar que “O meu Deus é melhor que o teu” e matar por isso, enquanto a consciência e humanização não se sobrepuser a ideologias que derramem sangue: “Je suis Charlie”, mas um Charlie com os olhos postos no mundo.


#jesuischarliecomolhosnomundo

Sem comentários:

Enviar um comentário