sábado, 7 de março de 2015

Justiça e democracia (ou a falta dela)

Ouvi há dias que a Justiça funciona como o “muro de lamentações da sociedade moderna”, citação do francês Antoine Garapon. Mas afinal o que raio é esta coisa da justiça? Ao que parece, segundo percebi nos últimos tempos, ninguém sabe o que é a justiça, mas todos enchem o peito para dizer que isto ou aquilo “é justo” e que se “houvesse justiça (…)”, e afinal o que pensam eles que é a justiça num país que não sabe o que é a democracia e se mostra infiel ao seus direitos e deveres e, que ainda, aplaude a ditadura de Salazar, se este voltasse tudo seria diferente, para melhor: ora ou não viveram na época, ou se esqueceram do que foi a ditadura em Portugal, ou há toda uma mente deturpada.
O conceito de desresponsabilização é algo extraordinário, não queremos que as máquinas nos substituam e “não somos robôs porque temos sentimentos”, mas quanto menos pensarmos e alienarmos a massa cinzenta melhor.
Para que se quer uma massa cinzenta se quando a usamos é para aplaudir o senhor que está no detector de mentiras n’A Tarde é Sua, ou para dizer “Porra! Que o Correio da Manha é só desgraças!”; ligamos o cérebro num modo “vegetal” em que o corpo reage mas o cérebro faz um esforço para desreagir (se é que a palavra existe). Numa sociedade, sem conceitos, pensamentos pouco autónomos e crenças desfasadas, quanto maior a desgraça mais se aponta o dedo, mais se julga sem saber o que é julgar; a falta de autonomia, autocontrolo, autoconfiança, faz de nós aquilo que não queremos ser: bonecos/robôs; perdemos o que é auto, perdemo-nos a nós, cidadãos do mundo, quando o mundo está ao nosso dispor e não o conhecemos.
Mas voltemos ao importante… Justiça: tem a sua origem no termo latino iustitĭa e refere-se a uma das quatro virtudes cardeais, aquela que é uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido; aquilo que se deve fazer de acordo com o direito, a razão e a equidade ou, por outro lado, o poder judicial e o castigo público. E se é o castigo público julgamos na praça pública, perder tempo em tribunais numa sociedade sem tempo é angustiante…pensamos nós.
Esta coisa da Justiça, segundo consta, nasce com a Democracia (do grego demo= povo e cracia=governo, ou seja, governo do povo) dá-me ideia, assim por alto e sem estudar muito, que se é um regime do povo e para o povo teríamos um regime justo e saberíamos que a justiça faz parte dele, contudo não sabemos o que é a justiça, como não se sabe quais são os nossos direitos, deveres e os organismos que estão ao nosso dispor.
Em pleno século XXI, numa sociedade altamente moderna, numa rede globalmente ligada aos quatro cantos do mundo e cheia de oportunidades, meios e saberes, custa-me, a mim, mais enquanto jovem, do que enquanto humana, que não se saiba fazer uma pesquisa sobre justiça, ou até mesmo sobre o Estado, governo e a actualidade do país e do mundo, mas que percamos tempo a pesquisar quem foi o mais votado na Casa dos Segredos e que lhes continuem a dar audiência: não é apenas triste que uma sociedade com tudo se desfaça em nada; é penoso ver uma jovem identidade e cultura humana desperdiçar-se.

Faça-se justiça, e que se abra em praça pública o debate, ou que se debata internamente as questões da democracia e justiça… assim parece-me justo!

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