Ouvi há dias que a Justiça funciona como
o “muro de lamentações da sociedade moderna”, citação do francês
Antoine Garapon. Mas afinal o que raio é esta coisa da justiça? Ao que parece,
segundo percebi nos últimos tempos, ninguém sabe o que é a justiça, mas todos
enchem o peito para dizer que isto ou aquilo “é justo” e que se “houvesse
justiça (…)”, e afinal o que pensam eles que é a justiça num país que não sabe o
que é a democracia e se mostra infiel ao seus direitos e deveres e, que ainda,
aplaude a ditadura de Salazar, se este voltasse tudo seria diferente, para
melhor: ora ou não viveram na época, ou se esqueceram do que foi a ditadura em
Portugal, ou há toda uma mente deturpada.
O conceito de desresponsabilização é algo extraordinário, não queremos
que as máquinas nos substituam e “não somos robôs porque temos sentimentos”,
mas quanto menos pensarmos e alienarmos a massa cinzenta melhor.
Para que se quer uma massa cinzenta se quando a usamos é para aplaudir o
senhor que está no detector de mentiras n’A Tarde é Sua, ou para dizer “Porra!
Que o Correio da Manha é só desgraças!”; ligamos o cérebro num modo “vegetal”
em que o corpo reage mas o cérebro faz um esforço para desreagir (se é que a palavra existe). Numa sociedade, sem
conceitos, pensamentos pouco autónomos e crenças desfasadas, quanto maior a
desgraça mais se aponta o dedo, mais se julga sem saber o que é julgar; a falta
de autonomia, autocontrolo, autoconfiança, faz de nós aquilo que não queremos
ser: bonecos/robôs; perdemos o que é auto, perdemo-nos a nós, cidadãos do
mundo, quando o mundo está ao nosso dispor e não o conhecemos.
Mas voltemos ao importante… Justiça: tem a sua origem no termo latino iustitĭa e refere-se a uma das quatro
virtudes cardeais, aquela que é uma constante e firme vontade de dar aos outros
o que lhes é devido; aquilo que se deve fazer de acordo com o direito, a razão
e a equidade ou, por outro lado, o poder judicial e o castigo público. E se é o
castigo público julgamos na praça pública, perder tempo em tribunais numa
sociedade sem tempo é angustiante…pensamos nós.
Esta coisa da Justiça, segundo consta, nasce com a Democracia (do grego demo= povo e cracia=governo, ou seja, governo do povo) dá-me ideia, assim por
alto e sem estudar muito, que se é um regime do povo e para o povo teríamos um
regime justo e saberíamos que a justiça faz parte dele, contudo não sabemos o
que é a justiça, como não se sabe quais são os nossos direitos, deveres e os organismos
que estão ao nosso dispor.
Em pleno século XXI, numa sociedade altamente moderna, numa rede
globalmente ligada aos quatro cantos do mundo e cheia de oportunidades, meios e
saberes, custa-me, a mim, mais enquanto jovem, do que enquanto humana, que não
se saiba fazer uma pesquisa sobre justiça, ou até mesmo sobre o Estado, governo
e a actualidade do país e do mundo, mas que percamos tempo a pesquisar quem foi
o mais votado na Casa dos Segredos e que lhes continuem a dar audiência: não é
apenas triste que uma sociedade com tudo se desfaça em nada; é penoso ver uma
jovem identidade e cultura humana desperdiçar-se.
Faça-se justiça, e que se abra em praça pública o debate, ou que se
debata internamente as questões da democracia e justiça… assim parece-me justo!
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