segunda-feira, 30 de abril de 2012

Crónica: Dicionário de moda para totós - Sábado







A Crónica é de Nelma Viana, jornalista da revista Sábado e além de nos actualizar para os novos termos da moda, ainda nos leva ao tempo dos nossos pais e avós e nos faz deitar uma gargalhada.







Aqui fica a cópia!


«Crónica: Dicionário de moda para totós


“Essas flare jeans com um cardiganzinho, uns wedges vertiginosos e uma maxi clutch compõem um look super trendy!” Não dá para levar a sério. Não dá mesmo. Especialmente quando esta mariquice trocada por miúdos resulta num modelito engraçado de calças à boca de sino, casaquinho de malha, sapatos compensados impossíveis de calçar e pochete de tamanho considerável.

Venho, por isso, apelar ao bom senso dos fashionistas - que dizer especialistas de moda não é imediato - para que se entendam de vez na ortografia que nós, leigos dos trapos, devemos usar para pertencer à tribo. É aproveitar a deixa do novo que já não é novo Acordo Ortográfico e aceitar de vez que a nossa identidade da moda, a mesma que nunca questionou o termo “macacão” para a peça única de calças, vergou ao estrangeirismo. E, se me permitem, vergou mal. Porque se eu tentar explicar à minha avó que comprei um “jumpsuit” em rosa “néon” que é um mimo e que penso usá-lo com um top “nude”, vamos acabar a conversa a falar da dificuldade que é acertar na quantidade de leite do arroz doce.

Mas se em vez disso lhe disser que vou usar o macacão rosa-choque com um top bege, ah, aí sim, temos paleio para uma tarde. E como eu gosto muito de trocar ideias com a minha avó, obrigo-me a respeitar os termos que a Burda (referência máxima da confecção caseira de vestuário) atribui aos moldes. E se eles dizem que é um macacão, quem sou eu para exigir um “jumpsuit”?

É que de repente entramos numa loja à procura de uma malhinha que nos aqueça as noites de Verão e damos por nós a querer sentar ao colo a funcionária de 19 anos e explicar-lhe com a mesma doçura que um pai explica ao filho que não pode dizer palavrões porque é feio, que independentemente de preferir “os modelos lisos, com padrão, com decote em V ou redondo”, o que eu queria mesmo era “uma porcaria de um casaco de malha para me abrigar. Sem adornos nem tretas”, e que isso do “cardigan” me parecia um luxo que eu, seguramente, não teria dinheiro para pagar. Ela disse que não, que “havia cardigans muito giros a partir de €12,99”, e eu perguntei-lhe se esses mesmos €12,99 também valiam para os casacos de malha ou se havia um desconto para a peça em português. Ela ignorou e disse-me que se queria produtos portugueses, “tinha ali uns «stilettos» de uma marca nacional que eu ía gostar de certeza”. E eu, pronto, rendi-me ao gap geracional e, armada em avó, lá lhe expliquei que os estrangeirismos que usava eram um despropósito e que se, de facto, ansiava pela comissão de vendas, não devia acreditar em tudo o que lia na Internet e o melhor era chamar as coisas pelos nomes. Whatever.»



A crónica desta jornalista vêm ainda acompanhada de uma fotogaleria de algumas peças... agora qual será o nome em português?



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